sexta-feira, 22 de abril de 2011

O Rajão


Rajão
Foto: Rui Camacho


De entre todos os instrumentos utilizados nas práticas musicais madeirenses será, provavelmente, o mais genuinamente regional na sua origem e, certamente, aquele que apresenta características mais arcaicas passíveis de serem associadas historicamente à região, pelo menos, desde o século XVII.

Tem bastante influência nas zonas rurais da Madeira, derivada da sua facilidade em acompanhar diversos ritmos musicais.

A sua afinação reentrante, em que a terceira corda é a mais grave, é típica da viola de mão seiscentista. As suas características são muito semelhantes à “viola requintada” utilizada, desde finais do século XVI.


Carlos Santos, no seu livro Tocares e Cantares da Ilha, refere que o "Rajão", é, “ instrumento acompanhador por excelência e desempenha ótimo logar nas orquestras regionais", e por sua vez, é "o companheiro de folguedos indispensável do campónio, pela facilidade com que acompanha qualquer ritmo.” (Santos: 19)


O “Rajão”, de acordo com o sistema de classificação de Hornbostel-Sachs, caracteriza-se como sendo um cordofone, mais especificamente, um cordofone composto de cordas beliscadas, muito semelhante à viola dedilhada.



Até à bem pouco tempo, tratava-se de um instrumento que apenas era utilizado sobretudo como acompanhador do canto e da dança no folclore da região e tal como o braguinha também havia quem fizesse do seu uso, o estilo ponteado. Os tocadores mais experientes apresentavam uma forma de execução muito característica, vulgarmente designado por “tocar de rasgado”.



Este instrumento foi levado para o Havai, em tempos idos, pelos madeirenses que emigraram para essas paragens, onde lhe terá sido atribuída a designação de ukulele.

Terá também sido exportado, em grandes quantidades, para outros locais, nomeadamente para a região Norte de África, por volta do ano de 1897.



O rajão, tal se apresenta nos nossos dias, arma com cinco cordas simples mas, divergindo das violas de mão, utiliza um tipo de afinação “reentrante”. Este tipo de afinação caracteriza-se por ter a terceira corda (Dó) como sendo a mais grave contrariamente aos outros instrumentos montados com cinco cordas, em que a quinta costuma ser a mais grave. A toeira (ou corda que dá o tom de afinação ao instrumento) é, neste instrumento, a quarta corda (Sol).


As cordas do rajão dispõem-se na seguinte ordem (de baixo para cima e/ou do agudo para o grave):
• 1.ª - (carinho Nº 10)
• 2.ª - Mi (carrinho Nº 4)
• 3.ª - (bordão Nº 41 – Si da guitarra portuguesa)
• 4.ª - Sol (carrinho Nº 9 – toeira)
• 5.ª - (bordão Nº 41 – Si da guitarra portuguesa)

Uma outra sonoridade, mais próxima do seu primórdio, é conseguida através do uso de cordas de fluorocarbono, (cordas de ukulele soprano), na seguinte ordem (de baixo para cima e/ou do agudo para o grave):
• 1.ª - (1.ª corda do encordoamento de ukulele Soprano)
• 2.ª - Mi (2.ª corda do encordoamento de ukulele Soprano)
• 3.ª - (3.ª corda do encordoamento de ukulele Soprano)
• 4.ª - Sol (4.ª corda do encordoamento de ukulele Soprano)
• 5.ª - (3.ª corda do encordoamento de ukulele Soprano)

Actualmente, o "Rajão", já não fica apenas pelo acompanhamento mas também faz melodias, assim como, melodias com acompanhamento. Alguns músicos, como Vítor Sardinha, Roberto Moniz, Roberto Moritz, Guilherme Órfão e Pedro Gonçalves, têm-se aplicado em novas composições, adaptações e interpretações. Na área da interpretação neste instrumento conta-se também com jovens músicos tais como: Tiago Lopes; Afonso Costa; Lara Nunes, entre outras jovens promessas.

O interesse por este instrumento está a crescer a passos largos e são cada vez mais os praticantes, fruto do trabalho de divulgação que têm acontecido pelos grupos que o usam na nossa região, mais concretamente: Xarabanda, Orquestra de Ponteado, Si Que Brade, O Machetinho, entre outros.



Nos dias que correm, o ensino deste instrumento acontece nos mais variados grupos e associações da nossa região, mas é no Conservatório Escola das Artes e na Associação Xarabanda, com o professor Roberto Moniz, bem como na SRERH - DSEAM, com o professor Roberto Moritz, que se faz uma aprendizagem mais significativa, através da abordagem de teoria musical, novas técnicas (equiparadas à viola dedilhada) e novo repertório.




Bibliografia
MORAIS, Manuel. Notas sobre os instrumentos populares Modernos; Xarabanda Revista nº12, 1997, pág. 11,12 e 13.
SANTOS, Carlos M. Tocares e cantares da ilha: estudo do folclore da Madeira. Funchal, 1937.
SANTOS, Carlos M. Trovas e bailados da ilha: estudo do folclore da Madeira. Funchal, 1942.

6 comentários:

Anónimo disse...

Sim senhor, muito bem. É bom ver-te empenhado na preservação da nossa tradição musical. Muita força e sucesso. Abraço.

Anónimo disse...

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Anónimo disse...

Eu só queria fazer um breve comentário para dizer que eu estou feliz por ter encontrado o seu blog. Graças

Filipe Tavares disse...

Extremamente grato por este Blog. Também existe uma banda rock chamada Barbante que se não estou em erro usa um rajão.

Anónimo disse...

Filipe Tavares, é verdade. É mesmo um rajão, tocado pelo madeirense Pedro Sousa.

Machetista disse...

Olá! Obrigado a todos pelos vossos comentários! Estou a actualizar o Blog e vou introduzir as novas informações que já possuo após a edição dos textos aqui publicados.
Se houver tempo em breve partilharei algumas partituras com arranjos para Cordofones Madeirenses.
Abraço a todos e umas boas férias (para quem as está a gozar)..;)